sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dominante ou Recessivo?



E no fim das contas, no fim da noite, no fim da história, a genética sempre decide. Pragmático, talvez. Derradeira é a verdade científica.

Em genética dois fatores devem ser considerados, são eles: predisposição e suscetibilidade. Com a devida influência do meio ambiente.

Você, meu caro, é dominante ou recessivo? Diga lá, o que tem pra hoje? AA, BB, Aa, Ab, Ba, Bb? Ou aa, bb, ab, bb? Xyz??

Junto com nossa cor de cabelo, tom de pele, estatura e afins, que são determinados no belo momento em que espermatozóide e óvulo se unem e formam o zigoto, quando todos são xx (sim, todo homem já foi mulher antes de vir o y e determinar o sexo masculino xy), lá está a célula mater do nosso modus operandi, errandi, que seja, horrendus para alguns.

Você domina ou é dominado? Nas relações com seus pares, você, cara amostra da minha pesquisa sem a mínima credibilidade para a comunidade científica, qual seu papel?

Eu sou definitivamente do grupo dominante. Tenho uma fortíssima tendência a tentar convencer o mundo das minhas opiniões, pontos de vista, gostos, desgostos. Quando criança subia em cima da cama pra ficar do tamanho de um adulto e defender minhas conviccções de “igual” pra igual. Megalomaníaca em potencial.

“De que adianta algo bom senão em excesso?” Já dizia Federico Fellini. Intenso. Pulsante. Arrebatador. Adrenalina. Sinestesia. Batimentos cardíacos no compasso de uma bateria de escola de samba. Sensação de perigo. Transgressão. Afã. Gana. Vontade. Desejo. Tudo elevado à máxima potência.

Suicida. Uma fórmula falida se levada ao pé da letra.

Porém, a vivência me mostrou a verdade nua e crua. É navalha na carne. Dói. Sangra. Demora a cicatrizar. Depois resta a cicatriz pra não deixar o ocorrido cair na paisagem.

Há de se ter diplomacia. Para convencer você deve se “prostituir” um pouco. Ok. Nesse ponto deixamos a hipocrisia de lado e assumimos a verdade e o peso da natureza humana. Prostituir, digo, em um sentido “família”, pois é necessário fazer algumas concessões para se ter espaço para falar e ser escutado e, dependendo da argumentação, atingir o convencimento. Dominar, em um certo senso.

E que prazer inigualável e único quando isso acontece. Temos que admitir, vicia. É intenso, rápido, te consome, é uma descarga de endorfina. E isola na mesma medida.

E é nesse ponto nevrálgico onde quero chegar. No isolamento do dominante. Seja por que ele mesmo se isola, ou por que é isolado pelos pares.

Daí temos duas possibilidades. 1) O dominante domina o recessivo. Coisa mais sem graça, vida unilateral. Sem mistério. 2) O dominante anula o dominante. Duas forças opostas se anulam (uma das leis de Newton). Frustração.

Isso sem falar no reforço negativo, que aqui só terá sua existência pontuada.

Recentemente apostei todas as minhas fichas e expectativas em um indubitável dominante. Pra minha surpresa nada aconteceu. Não houve troca relevante. Não houve mistério. Não houve nada, além de fluidos corpóreos. Mas tinha tudo pra ser. Frustração.

Um amigo (dominante total, mas doido pra se dominado) certa vez me aconselhou a respeito das amizades arco-íris: “Se você não ficar com amigo, vai ficar com quem? Com inimigo?”.

Pois é. Ao invés de considerar meus pares, sou pura e simplesmente, só e tão somente, amiga dos meus amigos. Acabo sempre com um ímpar.

Agora penso em explorar novos horizontes. Preciso de um híbrido, Ab. Devo ser uma Ab também.

Me identifico completamente com a Cristina, no sentido de ter algo muito forte dentro de mim, uma força que me consome, mas que sinto por ainda não ter sido canalizada e transformada em energia sustentável. Nunca me conformo, nem com o Javiér Barden e Penélope Cruz em Barcelona.

Sei o que não quero, mas ainda não sei o que quero. Como ela, talvez tenha uma imagem especial de mim mesma, e isso dificulte um bocado as coisas. Sempre acho que pode ter algo melhor dobrando a esquina. Devo considerar a hipótese de ser somente viciada no afã em si. Quando o objeto de desejo está na estante,vira decoração. Talvez eu seja uma pesquisadora, aventureira nata, queira catalogar exemplares da espécie.

Devo admitir também que a dominante ao pé da letra Maria Helena não está de todo errada ao dizer: “Somente o amor não realizado é romântico”.

Tenho uma Vicky dentro de mim, e isso vai muito além da paixão infantil pelo mundo lúdico do catalão Gaudi. Ao mesmo tempo que a loucura me excita, busco a estabilidade, a segurança, a calmaria típicas de um viver sem grandes riscos.

No momento minha atividade é catalogar pessoas. Faço uma seleção mental criteriosa sobre os ganhos e perdas de um possível confronto. Decidi apostar no Ab. Conto que meu A-Cristina possa ser acalmado pelo b-Vicky. E conto com o A-Ruan Antonio dele pra ter a emoção que preciso pra viver, de vez em quando, numa estupenda combinação AA-Maria Helena.

A felicidade nunca é completa, mas isso não significa que não pode ser divertida. Não se pode ter tudo-ao mesmo tempo. Eu fico com as partes.

Partes de mim, partes sem fim. Parto, enfim.

Manifesto do amor aos 25


25 anos. Nem lá nem cá. A exata metade do caminho rumo aos 30, novos 20. Onde estou? Será uma questão meramente matemática? Sendo assim, os novos 30 são os 40? Tenho que ter 10 anos de delay pra estar na média?

Não, comigo não. Sinto informar que meu delay é maior. É de no mínimo 50 anos, no Rio de Janeiro dos anos 60, vendo surgir a bossa nova e o retorno ao amor romântico, ora desacreditado. E se pudesse escolher no “delay delivery”, seria a opção menos 90 anos. Queria um amor Art Nouveau, em Paris, 1920.

Muito bem cotado está também um amor atemporal, meio Samba da Bênção, meio Afrosambas, meio Jazz, Soul, Blues (que nomes bonitos de se dizer, aliás, tão sonoros quanto as músicas que categorizam). Um pouco Acid Jazz! Ah, coloca também um amor rock and roll. “Ei, psiu, garçom, não teria como fazer um Combo, não?? Sou cliente assídua, fidelizada.”

Não. Não tem. “Minha senhora, o seu pedido é impossível. Seguro nenhum cobriria esse contrato, sinto muito. Ainda mais com esse seu histórico... Talvez lhe sirva melhor um contrato por temporada, de três meses, tem mais variedade aí.”

Tá, tudo bem. Acho que vou atrás de um amor Nouvelle Vague mesmo. Sim, excelente pedida. Um amor The Dreamers. Só um pouquinho misturado com um amor Neorealista italiano, Fellinesco. Isso, agora já sei o que busco.

O grande problema é quando começa com La Dolce Vita e termina em Chanchada.

De-vol-ve. Contrato rescindido por justa causa. Quero minha indenização! E 50 toalhas brancas.

“Senhora, não tem nada mais que a casa possa fazer. A banca quebrou. Nós vendemos ilusões, não amor verdadeiro, encontro de almas, e essas coisas que todo mundo diz que existe, mas eu mesmo, com tantos anos de experiência, nunca vi”.

Entendo. E lamento. Mas acredito ainda no amor altruísta, algo que nunca tive. Amor sem egos, sem responsabilidades a declarar pro imposto de renda e para a sociedade. Amor demais. Amor que flui, que simplesmente acontece. Amor que acalma.

Nada daquela loucura 2010 de relação precoce, que arde e queima, depois apaga. Nada de carência compartilhada. Quero defeitos compatíveis. A perfeição... é isto, afinal.

Convém agradecer a Você que só me ensinou isso e depois se expulsou da minha vida.

Quero celebrar, me sinto pronta e apta pra tal como se estivesse numa corrida esperando o sinal pra dar a largada. Alguém viu o resto do meu time?

Fico pensando... e se esse novo “way of love” se apossar dos nossos genes e for propagado gerações a fio? Preciso lutar pela sobrevivência da minha espécie. É uma questão Darwiniana, a continuidade do amor demais.

Eu, francamente, não consigo entender aqueles que conseguem, ou escolhem viver sem amar.

“Quem pagará o enterro e as flores, se eu me morrer de amores?”. Já dizia Vinícius de Moraes.

Na metade do caminho da minha geração, eu escolho voltar. Não quero me coisificar.

O amor te leva além. E no além não há limites. Entende? É a aplicação pura do conceito de liberdade.

Não existe liberdade maior do que a vivida a dois. Nem mais difícil de se encontrar.

Keep Walking.

Me agite bem antes de usar


Em tempos de internet 2.0 as emoções mudam a cada gadget novo. As relações são precoces, do início ao ápice bastam apenas 140 caracteres, e o fim é coroado com um unfollow. Simples assim.

Como se não houvesse o amanhã, cada dia se faz um novo amigo de infância. Tudo tão rápido e efêmero que se assim não for dá até a impressão de que não acontece nada. “Mas são tantas pessoas novas interessantes, tantas informações, músicas, clipes, pensamentos, que o dia acabou e eu não saí de mim”. E a internet se firma como a nova mesa de bar.

Ledo engano. Essa mudança na percepção da velocidade das coisas deixa escapar facilmente as nuances. E é justamente no não acontecer que as coisas importantes de fato acontecem. Sem barulho, mp3, avisos de recebimento de email e tudo aquilo que mantém até o inconsciente conectado em sonho, full time.

É no estar sozinho que as inconstâncias provenientes de cada leitura /clipe/música novos se tornam perenes. Caso contrário será apenas mais uma coisa nova que passou e não ficou. E convém dizer, que desperdício quando acontece o mesmo com pessoas. De nada adianta bater recordes em leituras se não se consegue administrar o absorver disso tudo. E para absorver tanta novidade 2.0, “ó paradoxo meu”, é preciso saber ficar só (de modo virtual e real).

Muitas vezes fui penalizada, criticada, crucificada e muitos “adas” por ser egoísta,crítica, individualista, e outros “istas”. Mas é que eu tenho uma vocação danada pra ser “eu”, sabe? E, fazer o que? Eu sempre me policio e procuro entender as coisas que acontecem ao meu redor, digo, as entrelinhas. E sobretudo digerí-las (com a gastrite que vez ou outra dá as caras pode ser difícil).

Visto isso, determinei duas regras básicas para a minha frágil existência nesse mundo: 1) Saber ser só, mesmo em dupla, trio ou bando. Não significa ser solitário, muito pelo contrário, adoro uma farra elevada à máxima potência. Bem, nessa hora devo citar Mário Quintana, que o fala com maestria: “Jamais deves buscar a coisa em si, a qual depende tão-somente dos espelhos. A coisa em si, nunca: a coisa em ti.”

Sacou?? Pois então.

2) Ser realista o suficiente pra reconhecer os que querem ficar comigo por que simplesmente querem e os que o querem por conveniência ou qualquer outro motivo (sai de retro, encosto). Digo, às vezes eu agradeço uma grosseria, uma falta de tato, e não tem nada a ver com sadomasoquismo nem sodomia. É que isso me dá a certeza de que a pessoa está sendo ela mesma em um mundo que todos devem ser “super legais, super descolados, super virtudes e não defeitos”.

Talvez eu seja assim graças ao meu amor incondicional pela verdade e liberdade, o que me torna por tabela uma amante do cinismo e contradições humanas. Para aceitar com resignação a verdade você deve aceitar igualmente o lado não bonitinho. E, é fato, de perto, ninguém é bonitinho. Mas também de longe todos são superficiais. Basta escolher a profundidade.

Bem e mal, luz e sombra, ying e yang, virtudes e defeitos, todos têm, e em constante movimento. Há de se ter a sensibilidade de se unir aos que jogam seu lado bom lá pro alto. Que te fazem querer ser uma pessoa melhor.

Vejo o ser humano sob um ponto de vista químico. Uma grande mistura de energia, substâncias, reagentes e catalisadores. Cada item novo entra e altera o conjunto. Daí a necessidade em não ceder à irresistível vontade de deixar no automático quando tudo parece estar bem.

Eu escolho ser consciente, mesmo quando dói. Eu escolho ser protagonista da minha vida. Eu escolho não ser levada pela maré. Eu escolho o ônus a partir do momento que escolho o bônus. Sobretudo, eu escolho escolher minhas próprias escolhas.

Portanto, seja você quem for, me convide para as entrelinhas, para as nuances, para me perder sempre e ter que achar um novo caminho sempre. Me convide para o desconhecido, para o difícil, para o impossível. Me convide para tudo que for movimento. Me convide para o que for além de mim, além da minha compreensão. Me convide para fora de mim.

Me instigue. Me destrate. Me elogie. Me critique. Minha vida é real. Aguente o meu humor negro, minhas ironias e o sarcasmo que me acompanha desde a infância.

Meu temperamento e minhas mudanças de humor não são culpa do signo de gêmeos. Não sou dúbia, não tenho dupla personalidade, aliás, se tivesse mesmo, seria tripla. Não tenho aversão à rotina, contanto que eu faça a minha e não seja repetitiva. Amo a segunda-feira! Amo acordar às 6 da manhã, tanto quanto ir dormir no mesmo horário.

Apenas escolhi ver as pessoas de verdade, ser uma pessoa de verdade. Aceito a movimentação dos elementos químicos. Uns passam, outros ficam, outros são diluídos e até parece que nunca existiram. Outros me catalisam, e é atrás desses que eu vou.

Comigo, por favor, podem pular a fase de superficialidade e perfeição. E, podendo ligar, ver, abraçar, conversar, se lamuriar, me xingar, não o faça de um modo 2.0.

E, se possível, faça o que quiser, mas faça com classe.

Mulheres 2010


Em 2009 muito se falou sobre relacionamentos. Não sei por que cargas d’água sinto que em 2010 vai ser igual, assim como em todos os sucessivos anos após.

Resolvi falar desse assunto aqui pois andei refletindo e achei uma constante. Como fui boa aluna em matemática, sei que com uma constante e duas variáveis, homem e mulher, se faz uma equação. E também acompanho assuntos matemáticos em Lost , com o Faraday e suas fórmulas para o Desmond viajar no tempo, o que vez ou outra me faz ter consciência que eu sei coisas que eu não sabia que sabia. Mas isso é outra história.


No ano que passou nos aproximamos muito praticando a arte milenar de troca de conflitos femininos: eu falo do meu e você fala do seu. Ainda possível na modalidade eu-falo-sozinha-pois-estou-desesperada-e-não-vou-ouvir-o-que-ninguém-tem-pra-me-dizer-pois-só-quero-por-pra-fora-aguentem.

Foram muitas variantes no que diz respeito à matéria. Vou enumerar brevemente as “mais mais”:

1)Tô terminada, não sei se volto, se não volto, “tá uma barra isso“, 2)Ele mora longe, estamos tendo problemas com isso e meu cartão de crédito não tá mais suportando, já gastei até as milhas da mamãe 3)Tô terminada, estamos em um relacionamente aberto, saca? Transcendental, ele pertence a mim e eu a ele, não ligamos pra rótulos e esse “Oviedo” é uma mentira, 4)Eu não acredito mais em conto de fadas, não ligo se sou ou não namorada, aprendi a ter paciência e a curtir o momento. Cansei de ser maltratada, não acredito em príncipe encantado, 5)Fui corna e corneei, mas como não tenho certeza se fui corna antes de cornear, me sinto no direito de rodar a baiana e me sentir pro-fun-da-men-te ofendida, como uma virgem imaculada, 6)Moro com meu namorado, mas estamos tendo problemas, nos damos muito bem, não brigamos, eu amo ele (!!!), mas sinto que falta algo, que não estou completa. Gosto da vida bandida e tenho atração por outros homens. Traio ou não traio para esclarecer essa dúvida? ,7) Égua (expressão nortista como porra, vírgula do paraense) cara, o “fulano” é foda... E lá vem a história, 8) Sexo casual sem culpa não é exatamente uma pauta, mas como foi muito citado entre as conversas do ano merece estar na lista dos “mais mais”, principalmente quando depois surge aquela vontade inesperada de receber uma certa ligação 9). Considere essa pergunta parte integrante de todos os exemplos anteriores: Será que sou louca? (nível louca acima da média, porque até certo nível é louca padrão)


Bônus:

Frases mais ditas: “Não tem homem que preste nessa cidade.” “Trocar de homem é trocar de problema.” “Nem todo mundo que te joga merda quer teu mal e nem todo mundo que te dá flores quer teu bem.” “Esse Oviedo é uma mentira” (já virou um clássico). Égua “mulheque” não sei se vou, se não vou... Tá uma barra isso. “Eiiii fulano, não fode!!!”

O fato é que tantas questões abriram nossos corações, e todos eles dançaram juntos como na musiquinha de entrada dos Ursinhos Carinhosos (que passava entre Cavalo de Fogo e Punk, a Levada da Breca, no SBT). Assim nos aproximamos mais, acompanhadas de vinho e berinjela.

Voltando à constante, dentre essas situações uma foi a mola propulsora para escrever isso. Falo da amiga que disse “cansei de ser maltratada” e “não acredito em contos de fadas”. Pensei nisso voltando da academia hoje (sabia que ia valer o esforço ir, depois de um mês e meio de falta). Em nossas variantes, vejo isso presente sempre, às vezes escancarado e às vezes camuflado. Trata-se de nosso sentimento de muitas vezes nos contentarmos com pouco, ou manter nossa cota mínima de qualidade pela metade, aturar coisas além da cota, ao ponto de “eu não me reconheço”, por preguiça emocional, ou por não botar fé na capacidade das pessoas, entende-se ser humano. Não que a realidade nua e crua não nos dê motivos para tal, afinal estamos vivendo um momento onde sinto que as pessoas estão emburrecendo, onde tenho a nítida impressão de que acham que pensar dói.

Não nos boto como algo sobrenatural, nobres amigas, como se fôssemos as melhores mulheres que pudessem vir a existir. Mas digo que nossas qualidades e nosso layout, da embalagem ao conteúdo, são top de linha. Não quero também dizer que a fábrica entrou em pane e nossos pares correspondentes vieram cheios de defeitos de fabricação, e sem garantia.

Somos inteligentes, temos estilo, personalidade, caráter, valores morais e éticos (sabendo a medida e que é bom ser amoral e devasso na hora certa), fora o layout, do qual já falei, mas nunca é demais falar. Valorizamos os pequenos prazeres, mas sabemos cobiçar os grandes. Somos humildes e modestas, achamos de última pisar e humilhar os outros seja por qual motivo for, mas sabemos ser ácidas e arrogantes o suficiente para defender alguma coisa quando preciso, ou para se impor diante de alguém que quer “montar”.

Pecamos pelo temperamento, e isso é uma queixa constante do gênero masculino, mas acho que no todo isso não é algo que nos torne fadadas a andar infelizes, frustradas e adúlteras na linha da vida. Afinal, todo homem se R-E-A-L-I-Z-A em dizer que a mulher é uma DOIDA. Tendo ou não feito por onde, acredite, você será chamada de doida. E ele não vai te esquecer justamente por isso. Além do mais, todas gostamos e fazemos o estilo Mulheres de Almodóvar.

O fato é que acreditando ou não em príncipe encantado moderno, você gosta de um cara que seja bacana, inteligente, fiel, bom de cama, boa praça, boa pinta, heterossexual convicto, goste de boa música, saiba dançar, tenha pegada, te olhe nos olhos e consiga ver até o que você viveu em vidas passadas, por quem você tenha frio na barriga, suas pernas bambem e para quem você se arruma, maquia, pura e simplesmente para ter o prazer de ouvir algumas palavras: “você está linda”, que tenha um falo de M para G, saiba que roxo agora é berinjela, rosa é fúcsia, marrom é chocolate e bege é nude, tenha estilo, personalidade e ainda por cima seja louco por você.

Atenção, pára tudo, tudo isso é relativo, não importa se ele é baixo, meio careca ou não lembra em nada o Johnny Depp. O que realmente importa é ele ser assim aos seus olhos. Portanto, todas podem contemporanizar seu próprio James Dean. Mais importante é você nunca, jamais, em hipótese alguma, se sentir usada, e isso abrange muitas coisas das quais não dá pra ter consciência agora, depois você pensa nisso, com a devida calma.

Mais importante ainda é que para você achar um cara desses, para ele não passar despercebido ante seus belos olhos e sobrancelhas feitas, deve fazer uma coisa. É só uma coisinha, simples: estar de peito aberto. E o que isso significa? Se dar o devido valor, parar de ver o copo metade vazio e de achar que quando a esmola é demais o santo desconfia. Geralmente, pessoas que buscam sentimentos nobres também querem para si na mesma moeda. Se o cara gostou de você e com a convivência, e certa conivência, enxerga um ser como o descrito acima, pula fora (com toda a razão) e vai levar seus nobres sentimentos para a próxima da fila.

Aí está a constante: não se fechar, amargurar e criar um mundo de pessimismo e falta de crença nas coisas boas. Fazer isso é assinar um atestado que desacredita no ser humano, e, se você fez isso, minha cara, parabéns, você acabou de assinar um contrato vitalício de relacionamentos infelizes a fio.

Em 2010 acredite no potencial do ser humano, no amor. Soa um tanto Polyanna a princípio, mas se dê uma chance, dentro do contexto exposto veja como é pertinente...

Importantíssimo: isso não significa que você tenha que ignorar os dois lados que todos nós carregamos, o bom e o ruim, ou ying e yang para os amigos ling-lings que ficam a 12 horas de nós no outro lado do globo terrestre. Aqui importam duas coisas: os dois seres envolvidos terem o seu lado bom igual ou superior ao ruim e buscarem sempre trabalhar o lado ruim de modo a minimizá-lo. Isto é evolução, se você não acha que está aqui para isso se prepare para reencarnar muitas vezes até ser um espírito de luz e ficar numa boa lá no céu junto ao Vinícius de Moraes. Se você encontrar um ser que aparente não ter defeitos e seja um cavalheiro em tempo integral, atenção, é fraude, sonho ou aparição (aí deve ser um santo já canonizado pelo Vaticano, comunique-o).

Nas minhas pesquisas para a coleção Mulheres de Almodóvar vi inúmeras vezes que o artefato ser humano é capaz de ser irremediavelmente cruel em um dia e no outro fazer o maior gesto altruísta de toda sua existência, e, cá entre nós, como Almodóvar retrata isso de uma maneira honesta, sem hipocrisia. Vilões e heróis se confundem em seus filmes. E assim é a vida. Podemos ser igualmente heróis ou igualmente vilões, basta acertar na medida.

Beijos em todas.

Feliz 2010