sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Me agite bem antes de usar


Em tempos de internet 2.0 as emoções mudam a cada gadget novo. As relações são precoces, do início ao ápice bastam apenas 140 caracteres, e o fim é coroado com um unfollow. Simples assim.

Como se não houvesse o amanhã, cada dia se faz um novo amigo de infância. Tudo tão rápido e efêmero que se assim não for dá até a impressão de que não acontece nada. “Mas são tantas pessoas novas interessantes, tantas informações, músicas, clipes, pensamentos, que o dia acabou e eu não saí de mim”. E a internet se firma como a nova mesa de bar.

Ledo engano. Essa mudança na percepção da velocidade das coisas deixa escapar facilmente as nuances. E é justamente no não acontecer que as coisas importantes de fato acontecem. Sem barulho, mp3, avisos de recebimento de email e tudo aquilo que mantém até o inconsciente conectado em sonho, full time.

É no estar sozinho que as inconstâncias provenientes de cada leitura /clipe/música novos se tornam perenes. Caso contrário será apenas mais uma coisa nova que passou e não ficou. E convém dizer, que desperdício quando acontece o mesmo com pessoas. De nada adianta bater recordes em leituras se não se consegue administrar o absorver disso tudo. E para absorver tanta novidade 2.0, “ó paradoxo meu”, é preciso saber ficar só (de modo virtual e real).

Muitas vezes fui penalizada, criticada, crucificada e muitos “adas” por ser egoísta,crítica, individualista, e outros “istas”. Mas é que eu tenho uma vocação danada pra ser “eu”, sabe? E, fazer o que? Eu sempre me policio e procuro entender as coisas que acontecem ao meu redor, digo, as entrelinhas. E sobretudo digerí-las (com a gastrite que vez ou outra dá as caras pode ser difícil).

Visto isso, determinei duas regras básicas para a minha frágil existência nesse mundo: 1) Saber ser só, mesmo em dupla, trio ou bando. Não significa ser solitário, muito pelo contrário, adoro uma farra elevada à máxima potência. Bem, nessa hora devo citar Mário Quintana, que o fala com maestria: “Jamais deves buscar a coisa em si, a qual depende tão-somente dos espelhos. A coisa em si, nunca: a coisa em ti.”

Sacou?? Pois então.

2) Ser realista o suficiente pra reconhecer os que querem ficar comigo por que simplesmente querem e os que o querem por conveniência ou qualquer outro motivo (sai de retro, encosto). Digo, às vezes eu agradeço uma grosseria, uma falta de tato, e não tem nada a ver com sadomasoquismo nem sodomia. É que isso me dá a certeza de que a pessoa está sendo ela mesma em um mundo que todos devem ser “super legais, super descolados, super virtudes e não defeitos”.

Talvez eu seja assim graças ao meu amor incondicional pela verdade e liberdade, o que me torna por tabela uma amante do cinismo e contradições humanas. Para aceitar com resignação a verdade você deve aceitar igualmente o lado não bonitinho. E, é fato, de perto, ninguém é bonitinho. Mas também de longe todos são superficiais. Basta escolher a profundidade.

Bem e mal, luz e sombra, ying e yang, virtudes e defeitos, todos têm, e em constante movimento. Há de se ter a sensibilidade de se unir aos que jogam seu lado bom lá pro alto. Que te fazem querer ser uma pessoa melhor.

Vejo o ser humano sob um ponto de vista químico. Uma grande mistura de energia, substâncias, reagentes e catalisadores. Cada item novo entra e altera o conjunto. Daí a necessidade em não ceder à irresistível vontade de deixar no automático quando tudo parece estar bem.

Eu escolho ser consciente, mesmo quando dói. Eu escolho ser protagonista da minha vida. Eu escolho não ser levada pela maré. Eu escolho o ônus a partir do momento que escolho o bônus. Sobretudo, eu escolho escolher minhas próprias escolhas.

Portanto, seja você quem for, me convide para as entrelinhas, para as nuances, para me perder sempre e ter que achar um novo caminho sempre. Me convide para o desconhecido, para o difícil, para o impossível. Me convide para tudo que for movimento. Me convide para o que for além de mim, além da minha compreensão. Me convide para fora de mim.

Me instigue. Me destrate. Me elogie. Me critique. Minha vida é real. Aguente o meu humor negro, minhas ironias e o sarcasmo que me acompanha desde a infância.

Meu temperamento e minhas mudanças de humor não são culpa do signo de gêmeos. Não sou dúbia, não tenho dupla personalidade, aliás, se tivesse mesmo, seria tripla. Não tenho aversão à rotina, contanto que eu faça a minha e não seja repetitiva. Amo a segunda-feira! Amo acordar às 6 da manhã, tanto quanto ir dormir no mesmo horário.

Apenas escolhi ver as pessoas de verdade, ser uma pessoa de verdade. Aceito a movimentação dos elementos químicos. Uns passam, outros ficam, outros são diluídos e até parece que nunca existiram. Outros me catalisam, e é atrás desses que eu vou.

Comigo, por favor, podem pular a fase de superficialidade e perfeição. E, podendo ligar, ver, abraçar, conversar, se lamuriar, me xingar, não o faça de um modo 2.0.

E, se possível, faça o que quiser, mas faça com classe.

Um comentário:

  1. Concordo com você. Outro dia, outro mês, escrevi sobre isso, sobre a superficialidade nas relações e entitulei de "fast-food", pois é isso que eu acho. Por correria ou comodismo, ou tudo junto, tudo ficou muito rápido, pronto e logo descartável. Eu que já embarquei muito nessas, te digo..Sinto falta de quando gelava minha barriga.
    beijoca

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