sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mulheres 2010


Em 2009 muito se falou sobre relacionamentos. Não sei por que cargas d’água sinto que em 2010 vai ser igual, assim como em todos os sucessivos anos após.

Resolvi falar desse assunto aqui pois andei refletindo e achei uma constante. Como fui boa aluna em matemática, sei que com uma constante e duas variáveis, homem e mulher, se faz uma equação. E também acompanho assuntos matemáticos em Lost , com o Faraday e suas fórmulas para o Desmond viajar no tempo, o que vez ou outra me faz ter consciência que eu sei coisas que eu não sabia que sabia. Mas isso é outra história.


No ano que passou nos aproximamos muito praticando a arte milenar de troca de conflitos femininos: eu falo do meu e você fala do seu. Ainda possível na modalidade eu-falo-sozinha-pois-estou-desesperada-e-não-vou-ouvir-o-que-ninguém-tem-pra-me-dizer-pois-só-quero-por-pra-fora-aguentem.

Foram muitas variantes no que diz respeito à matéria. Vou enumerar brevemente as “mais mais”:

1)Tô terminada, não sei se volto, se não volto, “tá uma barra isso“, 2)Ele mora longe, estamos tendo problemas com isso e meu cartão de crédito não tá mais suportando, já gastei até as milhas da mamãe 3)Tô terminada, estamos em um relacionamente aberto, saca? Transcendental, ele pertence a mim e eu a ele, não ligamos pra rótulos e esse “Oviedo” é uma mentira, 4)Eu não acredito mais em conto de fadas, não ligo se sou ou não namorada, aprendi a ter paciência e a curtir o momento. Cansei de ser maltratada, não acredito em príncipe encantado, 5)Fui corna e corneei, mas como não tenho certeza se fui corna antes de cornear, me sinto no direito de rodar a baiana e me sentir pro-fun-da-men-te ofendida, como uma virgem imaculada, 6)Moro com meu namorado, mas estamos tendo problemas, nos damos muito bem, não brigamos, eu amo ele (!!!), mas sinto que falta algo, que não estou completa. Gosto da vida bandida e tenho atração por outros homens. Traio ou não traio para esclarecer essa dúvida? ,7) Égua (expressão nortista como porra, vírgula do paraense) cara, o “fulano” é foda... E lá vem a história, 8) Sexo casual sem culpa não é exatamente uma pauta, mas como foi muito citado entre as conversas do ano merece estar na lista dos “mais mais”, principalmente quando depois surge aquela vontade inesperada de receber uma certa ligação 9). Considere essa pergunta parte integrante de todos os exemplos anteriores: Será que sou louca? (nível louca acima da média, porque até certo nível é louca padrão)


Bônus:

Frases mais ditas: “Não tem homem que preste nessa cidade.” “Trocar de homem é trocar de problema.” “Nem todo mundo que te joga merda quer teu mal e nem todo mundo que te dá flores quer teu bem.” “Esse Oviedo é uma mentira” (já virou um clássico). Égua “mulheque” não sei se vou, se não vou... Tá uma barra isso. “Eiiii fulano, não fode!!!”

O fato é que tantas questões abriram nossos corações, e todos eles dançaram juntos como na musiquinha de entrada dos Ursinhos Carinhosos (que passava entre Cavalo de Fogo e Punk, a Levada da Breca, no SBT). Assim nos aproximamos mais, acompanhadas de vinho e berinjela.

Voltando à constante, dentre essas situações uma foi a mola propulsora para escrever isso. Falo da amiga que disse “cansei de ser maltratada” e “não acredito em contos de fadas”. Pensei nisso voltando da academia hoje (sabia que ia valer o esforço ir, depois de um mês e meio de falta). Em nossas variantes, vejo isso presente sempre, às vezes escancarado e às vezes camuflado. Trata-se de nosso sentimento de muitas vezes nos contentarmos com pouco, ou manter nossa cota mínima de qualidade pela metade, aturar coisas além da cota, ao ponto de “eu não me reconheço”, por preguiça emocional, ou por não botar fé na capacidade das pessoas, entende-se ser humano. Não que a realidade nua e crua não nos dê motivos para tal, afinal estamos vivendo um momento onde sinto que as pessoas estão emburrecendo, onde tenho a nítida impressão de que acham que pensar dói.

Não nos boto como algo sobrenatural, nobres amigas, como se fôssemos as melhores mulheres que pudessem vir a existir. Mas digo que nossas qualidades e nosso layout, da embalagem ao conteúdo, são top de linha. Não quero também dizer que a fábrica entrou em pane e nossos pares correspondentes vieram cheios de defeitos de fabricação, e sem garantia.

Somos inteligentes, temos estilo, personalidade, caráter, valores morais e éticos (sabendo a medida e que é bom ser amoral e devasso na hora certa), fora o layout, do qual já falei, mas nunca é demais falar. Valorizamos os pequenos prazeres, mas sabemos cobiçar os grandes. Somos humildes e modestas, achamos de última pisar e humilhar os outros seja por qual motivo for, mas sabemos ser ácidas e arrogantes o suficiente para defender alguma coisa quando preciso, ou para se impor diante de alguém que quer “montar”.

Pecamos pelo temperamento, e isso é uma queixa constante do gênero masculino, mas acho que no todo isso não é algo que nos torne fadadas a andar infelizes, frustradas e adúlteras na linha da vida. Afinal, todo homem se R-E-A-L-I-Z-A em dizer que a mulher é uma DOIDA. Tendo ou não feito por onde, acredite, você será chamada de doida. E ele não vai te esquecer justamente por isso. Além do mais, todas gostamos e fazemos o estilo Mulheres de Almodóvar.

O fato é que acreditando ou não em príncipe encantado moderno, você gosta de um cara que seja bacana, inteligente, fiel, bom de cama, boa praça, boa pinta, heterossexual convicto, goste de boa música, saiba dançar, tenha pegada, te olhe nos olhos e consiga ver até o que você viveu em vidas passadas, por quem você tenha frio na barriga, suas pernas bambem e para quem você se arruma, maquia, pura e simplesmente para ter o prazer de ouvir algumas palavras: “você está linda”, que tenha um falo de M para G, saiba que roxo agora é berinjela, rosa é fúcsia, marrom é chocolate e bege é nude, tenha estilo, personalidade e ainda por cima seja louco por você.

Atenção, pára tudo, tudo isso é relativo, não importa se ele é baixo, meio careca ou não lembra em nada o Johnny Depp. O que realmente importa é ele ser assim aos seus olhos. Portanto, todas podem contemporanizar seu próprio James Dean. Mais importante é você nunca, jamais, em hipótese alguma, se sentir usada, e isso abrange muitas coisas das quais não dá pra ter consciência agora, depois você pensa nisso, com a devida calma.

Mais importante ainda é que para você achar um cara desses, para ele não passar despercebido ante seus belos olhos e sobrancelhas feitas, deve fazer uma coisa. É só uma coisinha, simples: estar de peito aberto. E o que isso significa? Se dar o devido valor, parar de ver o copo metade vazio e de achar que quando a esmola é demais o santo desconfia. Geralmente, pessoas que buscam sentimentos nobres também querem para si na mesma moeda. Se o cara gostou de você e com a convivência, e certa conivência, enxerga um ser como o descrito acima, pula fora (com toda a razão) e vai levar seus nobres sentimentos para a próxima da fila.

Aí está a constante: não se fechar, amargurar e criar um mundo de pessimismo e falta de crença nas coisas boas. Fazer isso é assinar um atestado que desacredita no ser humano, e, se você fez isso, minha cara, parabéns, você acabou de assinar um contrato vitalício de relacionamentos infelizes a fio.

Em 2010 acredite no potencial do ser humano, no amor. Soa um tanto Polyanna a princípio, mas se dê uma chance, dentro do contexto exposto veja como é pertinente...

Importantíssimo: isso não significa que você tenha que ignorar os dois lados que todos nós carregamos, o bom e o ruim, ou ying e yang para os amigos ling-lings que ficam a 12 horas de nós no outro lado do globo terrestre. Aqui importam duas coisas: os dois seres envolvidos terem o seu lado bom igual ou superior ao ruim e buscarem sempre trabalhar o lado ruim de modo a minimizá-lo. Isto é evolução, se você não acha que está aqui para isso se prepare para reencarnar muitas vezes até ser um espírito de luz e ficar numa boa lá no céu junto ao Vinícius de Moraes. Se você encontrar um ser que aparente não ter defeitos e seja um cavalheiro em tempo integral, atenção, é fraude, sonho ou aparição (aí deve ser um santo já canonizado pelo Vaticano, comunique-o).

Nas minhas pesquisas para a coleção Mulheres de Almodóvar vi inúmeras vezes que o artefato ser humano é capaz de ser irremediavelmente cruel em um dia e no outro fazer o maior gesto altruísta de toda sua existência, e, cá entre nós, como Almodóvar retrata isso de uma maneira honesta, sem hipocrisia. Vilões e heróis se confundem em seus filmes. E assim é a vida. Podemos ser igualmente heróis ou igualmente vilões, basta acertar na medida.

Beijos em todas.

Feliz 2010

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